19 de outubro de 2015

Eu li #31 - Vidas Secas

Oieee!!

Como pode um livro tão curtinho empacar na minha mão? Essa foi a pergunta que me fiz por alguns dias, enquanto não conseguia terminar a leitura de "Vidas Secas", de Graciliano Ramos, sugerida na faculdade para a matéria de Teoria Literária. Pois é, não tenho vergonha em dizer que sofri na mão dessa obra! Mas a culpa não é de Graciliano, claro que não!! Ao contrário da maioria, eu não li ele na escola, então nem a história eu conhecia. E o autor sendo alagoano (que aliás, me senti homenageando esse povo que conheci no ano passado!), escreve uma literatura riquíssima em vocabulários nordestinos, que nós do Sul, desconhecemos a metade. Resumindo, paradas e mais paradas para consultar os significados...rs. Passei por isso quando li Guimarães Rosa.



A obra foi escrita entre 1937 e 1938 e retrata uma situação muito fiel ao povo nordestino: a seca. Porque é disso que a história fala. De uma família sertaneja, cuja rotina de vida é vagar procurando terra fértil que permita sua ocupação temporária. Um livro que nos faz acompanhar o sofrimento de uma família oprimida pelo sistema, buscando sobreviver à seca que assola o sertão. E também nos faz perceber que ainda assim, cada membro da família, do seu jeito, possui sonhos e anseios. Fabiano (o pai), Sinhá Vitória (a mãe), os dois meninos e Baleia, a cachorra, que de tão solidária, acaba sendo humanizada por nós leitores.

Já tinha recebido comentários de leitores antes de iniciar a leitura e agora preciso concordar. Sim, difícil não se encantar com a Baleia. Observadora e sensível, destaca-se no livro até mais que os próprios meninos, que nem nome tem. Vale destacar que a obra originou-se de um conto em particular de Graciliano, entitulado "Baleia".

Ilustração de Aldemir Martins para Vidas Secas, em 1963

Essa humanização de Baleia, a propósito, me chamou muito a atenção no livro. Os personagens, embora dotados de sentimentos, mostram-se brutos, sem dar-se a diálogos ou manifestações de relacionamento humano. Já Baleia, com gestos e olhares, descreve com detalhes a realidade da família, sem deixar de lado seus sonhos particulares.

Fabiano e sua família enfrentam, além dos males externos como a seca, a fome, a exclusão e injustiça, também seus conflitos internos. Muito do interior dos personagens é explorado. Em cada capítulo, adentrei em suas percepções individuais, como se me sentisse parte daquela família. Talvez não tenha sido só o vocabulário nordestino a empacar minha leitura, mas a profundidade da escrita. Não tem como não refletir a história, é isso ou largar pela metade.

Ilustração de Vidas Secas, em grafite sobre papel (Julio Siqueira - 2010)
Pois é. Na minha opinião, "Vidas Secas" nos obriga a refletir sobre o "ter" e o "ser". Sobre nossos costumes, nossas facilidades, nossa comodidade. E com isso nos leva a reflexões mais profundas, como nossa falta de coragem em soltar as amarras que nos aprisionam. Nos leva a perceber uma realidade tão distante, conduzindo-nos a nos imaginar dentro dela. E se? Como seria? 

Apesar da temática forte, "Vidas Secas" fez florescer em mim o lado belo daquela gente sofrida do sertão. Um livro que deveria ser lido por todos os brasileiros, que muitas vezes critica uma realidade que desconhece. 


Cena da adaptação do romance "Vidas Secas" para o cinema, em 1963.
Graciliano Ramos fez de "Vidas Secas" uma das maiores críticas regionais na época e com isso, tornou-se um dos representantes do neo-realismo nordestino (movimento artístico vigente no século XX, marcado por um ideal nitidamente esquerdista), junto com outros autores como Érico Veríssimo, Jorge Amado e José Lins do Rego. 

Leitura obrigatória gente!

Beijos!

1 comentários:

Ipsis Litteris disse...

Lindo livro!!!! Apaixonada pela baleia.